Doenças autoimunes e Nutrição: qual a relação?
As doenças autoimunes (DAIs) fazem parte do cotidiano de muitas pessoas. Elas são bastante diversas, com sintomas diferentes entre si, mas possuem uma característica em comum: o sistema imunológico de um indivíduo ataca os próprios tecidos do corpo.
Além de causarem sintomas em diferentes níveis de gravidade, as doenças autoimunes podem estar relacionadas a outros problemas de saúde. Por isso, é muito importante conhecer melhor sobre elas.
Neste texto, você entenderá melhor o que são as doenças autoimunes, bem como sua relação com a Nutrição.
Entendendo as doenças autoimunes
A patogenia e etiologia das doenças autoimunes não são totalmente compreendidas, mas os fatores ambientais (estilo de vida, dieta, drogas, infecções) e certos antecedentes genéticos foram propostos como fatores de risco.
Como exemplo, nos últimos anos, com a pandemia da Covid-19, muito se falou sobre a resposta imune do organismo ao novo coronavírus e como as vacinas poderiam melhorar as nossas defesas contra essa doença.
Assim, sabemos que o sistema imune é fundamental para a manutenção da saúde. O problema é que, no caso das doenças autoimunes, esse mecanismo fica comprometido e ataca o próprio organismo, sendo entendido, erroneamente, como uma ameaça.
Funções de barreira intestinal prejudicadas podem levar à ativação de uma resposta de sistema (auto)imune, que pode ser induzida através de diferentes mecanismos, como mimetismo molecular entre ingredientes alimentícios e autoantígenos, ou a reação de certos produtos químicos com auto moléculas, gerando novas moléculas antigênicas.
Dito de outro modo, por uma disfunção imunológica, as proteínas produzidas pelo nosso corpo são “lidas” como invasores a serem eliminados. Esse “ataque” ocasiona problemas diversos, incluindo questões de digestão, absorção de nutrientes e metabolismo. Por isso, a Nutrição é fundamental para auxiliar no tratamento das DAIs.
Características das DAIs
Agora, vamos ver algumas características e dados sobre as doenças autoimunes:
- estima-se que de 3% a 5% da população é afetada por esse tipo de doença;
- existem mais de 100 tipos de DAIs catalogadas pela ciência;
- nenhuma doença autoimune tem cura, mas a ciência busca tratamentos eficazes
- para melhorar a qualidade de vida dos pacientes;
- as mulheres são as mais acometidas por esse tipo de doença;
- estudos mostram que, em cerca de 75% das doenças autoimunes, as mulheres estão mais suscetíveis.
Dessa forma, as DAIs podem ser mais ou menos graves, conforme os órgãos ou células do corpo que são atingidas. O mais importante é sempre buscar o acompanhamento de saúde adequado, preferencialmente com uma equipe multidisciplinar. Para tanto, o diagnóstico precoce é fundamental.
As doenças autoimunes e a Nutrição
Indivíduos com predisposição genética e um intestino permeável podem desencadear o início e o desenvolvimento de doenças autoimunes.
Além do risco de dano da barreira intestinal associado aos aditivos presentes nos alimentos ultraprocessados, a proporção incorreta na ingestão de macronutrientes (como gorduras), também pode desregular o sistema imunológico.
A alta ingestão de gorduras saturadas parece ter um impacto direto no sistema imunológico inato, ativando vias de sinalização pró-inflamatórias. Por serem doenças que afetam o organismo de forma ampla, as DAIs também podem estar relacionadas ao aumento e à diminuição do peso. Nesse sentido, fica o alerta: alterações corporais, sem motivo aparente, devem ser investigadas a fundo, preferencialmente por uma equipe multidisciplinar.
Por isso, a alimentação tem relação direta com DAIs, as quais exigem mudanças no estilo de vida. Entenda melhor essa relação entre as doenças autoimunes e a Nutrição com alguns exemplos:
Tireoidite de Hashimoto
A tireoidite de hashimoto ou síndrome de hashimoto ou tireoidite crônica é uma doença autoimune bastante comum. Nela, o sistema imune reage à glândula tireoide, interferindo na sua produção de hormônios.
Nem todos os casos de doenças tireoidianas são de caráter autoimune, mas a síndrome é uma das causas para o hipotireoidismo. Assim, a produção dos hormônios T3 e T4 fica prejudicada, tornando o metabolismo mais lento. Por isso, a tireoidite crônica, em algumas pessoas, pode ocasionar ganho de peso — ainda que essa relação não seja uma unanimidade entre cientistas.
Para quem sofre com essa doença autoimune, algumas orientações nutricionais são fundamentais:
- O selênio é um mineral importante para melhorar as funções metabólicas. Por isso, quem sofre com a tireoidite de hashimoto deve apostar em alimentos como carnes, frutos do mar e castanha-do-pará, que são fonte de selênio.
- É necessário consumir sal iodado, porém com moderação para evitar outros problemas de saúde.
- Estudos mostram que o consumo da soja pode interferir no funcionamento da tireoide, devendo ser evitado.
- Alimentos ricos em tirosina, como semente de linhaça e abóbora, auxiliam na síntese dos hormônios da tireoide.
Doença celíaca
Outro exemplo de doença autoimune que se relaciona com a Nutrição é a doença celíaca (DC). Nela, ocorre uma inflamação da mucosa intestinal causada pela ingestão de glúten. Essa condição acarreta sintomas como a má absorção de alimentos, diarreia crônica, dores, gases e distensão abdominal.
Por atacar o sistema digestivo, a DC também tem como sintoma a perda de peso, bem como deficiências em nutrientes importantes para o organismo. A principal orientação nutricional para quem tem doença celíaca é excluir, de forma definitiva, o glúten da alimentação. Para tanto, é importante:
- Sempre ler com atenção o rótulo de todos os alimentos, pois muitos contêm glúten ainda que não pareça.
- A atenção deve ser redobrada em relação aos alimentos ultraprocessados, que normalmente contêm glúten.
- Alimentos que não contêm glúten em sua composição originalmente, como a aveia, podem incluir essas frações proteicas por serem armazenados juntamente com trigo (contaminação cruzada).
Diabetes Mellitus I
O último exemplo que trazemos é a Diabetes Mellitus I. Existem dois tipos: o tipo I que é autoimune, enquanto o tipo II é mais relacionado aos hábitos de vida. Com isso, na Diabetes Mellitus I, o sistema imune acomete o pâncreas e, consequentemente, a produção de insulina.
Nesse tipo de diabetes, o indivíduo precisa tomar insulina por toda a vida, uma vez que o órgão deixa de produzir (ou produz insuficientemente) o hormônio responsável pelo metabolismo de glicose no sangue.
Em função da glicemia desregulada, o indivíduo com Diabetes Mellitus pode apresentar, como sintoma, a perda de peso — o que pode ocorrer, também, no Diabetes Mellitus II sem o devido acompanhamento.
O controle do diabetes tipo I depende muito da alimentação. Dessa maneira, quem sofre com a doença precisa de acompanhamento nutricional frequente. Para além de evitar o consumo de açúcar e carboidratos refinados, outras mudanças são necessárias para evitar a elevação da glicemia, como a ingestão de fibras. Porém, essas recomendações devem ser, sempre, avaliadas caso a caso.
E é por isso que a Nutrição tem papel fundamental no tratamento das doenças autoimunes. Para saber mais dicas de Nutrição e também sobre como interfere na fertilidade, acompanhe os conteúdos do Nutrição & Fertilidade no Instagram e Facebook.